Jesus negro, índio e mulher! No desfile da Mangueira o 'Jesus da gente' aparece em todas as faces

Jesus funkeiro, negro, com cabelo platinado e marcado de balas. Estação Primeira de Mangueira, atual campeã do Carnaval 2019 e conhecida por enredo político, traz uma história do Jesus moderno, abraçando minorias e crítica ao atual governo. 

A imagem do carnaval. Foto: Reprodução/Tv Globo.

Salvador – A Mangueira foi a grande atração da madrugada deste domingo para segunda (24), trazendo o enredo “A Verdade vos Fará Livre”, nos mostrou as mais diversas faces de Jesus - negro, periférico, preso, índio e mulher.

A comissão de frente já chegou ganhando o público, mostrando um Jesus moderno, usando jeans, e tirando selfie com os amigos - representando as minorias - durante a santa ceia. A polícia chega e coloca todos na parede, exceto o Jesus, que era o único branco, porém ainda foi preso. (João:18)

Jesus é abordado pela polícia, a versão atual da guarda romana. Foto: Reprodução/Estadão Conteudo

Várias alas representavam momentos da trajetória e vida de Jesus Cristo. Uma delas apareceu Alcione, interpretando uma Maria negra, mãe do menino Jesus. 

A ala “Bandido bom é bandido morto”, em clara crítica ao governo do atual presidente Bolsonaro, retratando a violência que os jovens negros sofrem diariamente em nosso país. “não tem futuro sem partilha, nem messias de arma na mão” um trecho do samba-enredo. 

Ala 'Bandido bom é bandido morto'. Foto: Reprodução/Estadão Conteúdo 

Várias outras alas representando o racismo com religiões de matrizes africanas, os jovens negros periféricos condenados a morte e logo após a ala da ressurreição com a personagem Maria Madalena segurando placas em arco-íris escrito 'Vai tacar pedra', se referindo a comunidade LGBTQIA+. 

Rainha de bateria vestida e sem samba

A frente da bateria estava Evelyn Bastos, toda vestida e no lugar do samba estava uma interpretação dramática e sofrida de Jesus Cristo as vésperas da crucificação. Na pele de uma mulher negra.

Evelyn Bastos representou uma versão feminina de Cristo e desfilou vestida. Foto: Reprodução/G1

“Uma rainha de bateria pode mais. Pode mais do que só sambar. É um personagem importante e muitas vezes desmerecido. A ideia de que a rainha de bateria é uma gostosa que tem que vir seminua à frente é uma coisa já ultrapassada”, diz Leandro Vieira, carnavalesco da escola.

Evelyn diz que foi um dos maiores desafios da sua vida, abrir mão do samba para 'pregar o amor' de outra forma.

“Um Jesus sem a necessidade de sexualizar. Vai ser ser um Jesus que não samba, porque a gente quer que as pessoas enxerguem Jesus primeiro, independente de gênero.”

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